Innovation by Design: Muito conteúdo, pouca profundidade

Eu ouvi e vi o vídeo de "Happy" do Pharrell mais do que deveria, comi sorvetes gourmet (achei meio mais ou menos...) e ouvi a palavra "fuck" mais vezes do que em todas as outras conferências que fui antes somadas. Como todo bom design, a principal preocupação da conferência foi com a experiência do usuário - ou, no caso, dos participantes. Porém caiu na armadilha que muito design cai: esqueceu o objetivo expresso de uma conferência - a transferência de conhecimento. Um dos participantes resumiu ao comentar "eu não aprendi nada de novo hoje".

Sem dúvida houveram momentos marcantes. George Lois - o publicitário responsável por denunciar o julgamento do boxeador "Huricane" Carter para o grande público nos anos 60 - falando de design perigoso. John Maeda estava lá despertando os designers para as oportunidades geradas pelo novo dinheiro no Vale do Silício "vocês precisam faz muito dinheiro, pois as coisas realmente interessantes não darão dinheiro".

Por outro lado, as ideias apresentadas tiveram pouco tempo para ser aprofundadas. O consenso entre os organizadores parece ser a ideia de que design é uma arte, não uma ciência. Por outro lado, houve um bate papo sobre algoritmos como designers. É uma questão reconhecida por eles mesmos como fundamental, mas pouco debatida. Ideias como testes A/B, teste de guerrilha e análise de padrões foram pouco exploradas, ou nem ao menos mencionadas.

Cacofonia de egos

Double Tony Fadell Double Tony Fadell

Foi impressionante ver 13 apresentações em apenas 5 horas, mas a impressão que eu tive é que elas foram parte de um diálogo que já rolava na comunidade local, através de outros eventos e grupos de interesse. Começou com o CEO da Nest, Tony Fadell falando de design para a casa conectada. Tony não acredita no surgimento de padrões para internet das coisas, argumentando que as pessoas compram produtos, e os que forem bem sucedidos serão aperfeiçoados para comunicar entre si quando fizer sentido. Ele falou um pouco do estilo de liderança dele. Eu não gostaria de trabalhar com o Tony.

As próximas duas sessões foram curtinhas. Na primeira, sobre visualização de dados da Amazon, a coisa mais interessante que ouvi do Marc Maleh foi que para projetos de visualização, os dados são a pauta. A seguinte, "O Que Bruce Lee Pode Ensinar Sobre Design" foi a mais inspiradora do dia. O ensinamento de Bruce Lee para mim foi de ter um "estilo sem nenhum estilo": deixar o projeto ditar o que deve ser feito. Acho que tem bastante a ver com a abordagem ágil da ThoughtWorks.

Na sequencia, "inovação disruptiva" na Coca-cola e na Target foi um debate entre executivos de design das duas empresas. A facilitadora não conseguiu inspirar respostas interessantes. O ponto alto: descobri que a Coca só não está presente em dois países do mundo: Cuba e Coreia do Norte. O único artigo da Fast Company sobre este assunto parecia propaganda paga da Coca. Me nego a linkar.

Depois do Intervalo teve um debate com o âncora da CBS Charlie Rose. O painel todo era bom, discussões interessantes que eu fiquei sem contexto por realmente não assistir TV. Ouvi o suficiente sobre "infotainment" e "news business" para confirmar que informar a população é uma preocupação secundária para esse jornalismo. O John Maeda foi o primeiro grande nome do design que eu reconheci no evento. Ele teve pouco tempo para dar o recado dele, mas eu gostei muito da abordagem pragmática: "Custa mais caro incorporar design no processo" e "não precisa ficar rico no Vale do Silício, mas tem que entender que é o objetivo fim por lá". Logo depois teve algo sobre o figurino no Game of Thrones que realmente não me marcou.

A próxima sessão tinha a proposta mais instigante, debatendo se algorítimos podem ser designers. As painelistas propuseram que algorítimos podem ser úteis para fazer experimentos rápidos, mas que são uma ferramenta, ainda precisam de um ser humano definindo os parâmetros. Apesar de argumentarem que alguém tem que criar o algorítimo, também lamentaram que ao automatizar parte do design, uma parte do processo criativo é perdido. Me pareceu haver um pouco de preconceito em relação ao trabalho criativo dos desenvolvedores. Isso também toca na questão de design como arte (neste caso talento teria precedência sobre execução) ou como ciência (que significa que precisaria saber fazer boa ciência para fazer bom design). Minha opinião: A não ser por fatores sociais (peer pressure, conformidade, etc.), acreditar que bom design exige um "talento" especial, parece algo um pouco pretensioso. Designers gostam do trabalho de outros designers por que eles pertencem ao mesmo grupo social, tem as mesmas referências e incentivos para gostarem das mesmas coisas. Bom design voltado pelo usuário só pode ser validado por evidências.

A seguir 3 sessões com muito pouco conteúdo interessante (bastidores de "Happy" do Pharell, Design na Starwood Hotels e sorvetes) antes da última sessão com pesos-pesados da indústria debatendo os designs mais perigosos do mundo. A estrela era o lendário George Lois, mas isso era bom e ruim, os outros painelistas deferiam muito a ele, e o debate foi lento. Yves Behar deu uma boa dica na hora de propor um design "perigoso": invista tempo atraindo o cliente com uma ideia antes de mostrar o design resultante. Isso vai fazê-lo mais propenso a comprar a ideia e correr o risco. E esse foi o fim da parte "onsite" do evento - ao menos para mim...

Escuta Criativa com a IDEO

A seguir, a conferência oferecia "off-site experiences" - visitas guiadas a organizações interessantes no mundo do design. Eu escolhi o tópico de Escuta Criativa, ministrado na IDEO. Foi muito interessante ouvir técnicas para derivar insights a partir de entrevistas. Para começar, foi uma sessão mais longa, que permitiu aprofundamento na questão. Ainda assim, faltou tempo! As 4 técnicas descritas foram:

Creative Listening Kit Creative Listening Kit

Talvez os maiores insights vieram não do que estava planejado, mas da participação da audiência. Ao ouvir gravações de entrevistas com usuários, ficou claro que ouvir revela mais que ler ou ver um vídeo das entrevistas ("a voz não mente"). As técnicas apresentadas também levantaram a necessidade de empatia com o ouvinte quando utilizamos jargão de um domínio específico. Muitas vezes tomamos alguém por incapaz de entender, quando na verdade estamos usando jargão que inviabiliza o entendimento.

Foi um dia intenso, mas ironicamente um dia leve. Não fui forçado a pensar demais, não tive que tomar decisões difíceis ou providenciar nada. Mas também não aprendi tando quanto gostaria. É pouco para um conferência, mas bom para o primeiro dia de férias...