Cultura e Agilidade: Compartilhando duas vezes a minha dissertação
02 Jul 2014Recentemente recebi um convite para publicar a minha dissertação de mestrado "Cultura Organizacional e Adoção de Práticas Ágeis" de uma certa "Novas Edições Acadêmicas". Devo admitir - para a minha vergonha - que me deixei levar pelo meu ego e me empolguei com a ideia, mesmo sabendo que meu trabalho não era exatamente um marco do assunto no mundo acadêmico.
Graças aos meus antigos professores, me motivei a pesquisar um pouco mais sobre essa generosa oferta antes de responder. O que acontece é que essa "Novas Edições Acadêmicas" é a representação no Brasil da OmniScriptum GmbH & Co. KG, uma editora alemã. Pelo que eu entendi pesquisando sobre esta empresa, na Alemanha, para um aluno completar um mestrado, ele tem que ter o seu trabalho publicado, assim se criou um nicho para empresas como a OmniScriptum, que não cobram para publicar trabalhos (mas também não pagam os autores). O modelo de negócio consiste em conseguir direitos sobre estes trabalhos acadêmicos e vende livros que são gerados sob demanda.
Aparentemente eles resolveram expandir este modelo para outros países e fazem buscas semi automáticas por artigos com palavras chave interessantes e abordam os autores. O problema é que no Brasil, não existe esta obrigatoriedade de publicar e eu estaria cedendo meus direitos de autor (e tornando o resultado do meu trabalho acadêmico mais "fechado" sem ganhar nada em troca.
Ao menos isso me motivou a fazer algo que já devia ter feito a tempo: compartilhar o texto final da minha dissertação. Ele na verdade já está disponível no Lume da UFRGS como Creative Commons, mas resolvi publicar uma segunda vez aqui para não deixar dúvidas.
Sobre o trabalho
O trabalho tinha por objetivo identificar dimensões culturais interessantes, gerar uma lista de práticas (observáveis) que melhor representassem os princípios (não observáveis) e medir a adoção das práticas. Apesar de não ter me dado conta na época que escrevi, creio que estava buscando mapear a aderência dos valores expressos (práticas) em relação aos pressupostos básicos (cultura).
Entre as descobertas mais interessantes, destaco algumas:
- Standups, TDD, integração contínua, refatoração e programação em pares não apresentaram correlação com nenhum traço cultural observado. Na minha experiência, essas são as primeiras práticas adotadas por times que buscam se tornar ágeis. Parece coerente, uma vez que devem funcionar em qualquer ambiente, e por tanto são boas para começar a mudar a cultura;
- Os traços culturais mais relacionados com agilidade são "proatividade", "pragmatismo", "valorização da comunicação" (em detrimento da privacidade), assumir melhores intenções ("o ser humano é basicamente bom") e coletividade. Esses são traços frequentemente relacionados a equipes ágeis e um ambiente que "pede perdão e não permissão";
- Também foi medida a satisfação dos clientes com métodos ágeis, e a correlação disso com a participação ativa do cliente (uma das práticas ágeis elencadas) foi muito alta, ou seja, clientes que se envolvem são satisfeitos e clientes que não se envolvem não são satisfeitos. Devemos lembrar que correlação não é causa, e que a satisfação pode ser um viés pró-escolha (as pessoas gostam de ágil por que estão envolvidas nas decisões, não por que é objetivamente melhor), mas isso parece indicar que o envolvimento do cliente é importante para a sua satisfação;
Não sei se isso é tão importante para o resto do mundo quanto foi para mim, mas certamente me ajudou a entender melhor quando e por que ágil "funciona". Se quiser saber um pouco mais, pode baixar o trabalho aqui.